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A desaplaudida da Glória

Categoria(s): | Publicado em: 26 de agosto de 2014

Ivana nunca sonhou em casar, ter filhos, essas coisas… Teve uma adolescência tranquila, normal, toda trabalhada no romantismo, com direito a fã-clube do Menudo e do Dominó, mas nunca com esse sonho que a maioria das teen ages tem de se casar. Até que ela “trintou” e começou a ver suas amigas se casando e tendo filhos. Além disso, a pressão e expectativa alheias a fez pirar um pouquinho. Era uma tal de “Vai casar quando?” “E os filhos quando vem?” que ela, mesmo sem querer, surtou um pouquinho. Começou a finalmente fantasiar o príncipe do cavalo branco.

Foi quando conheceu Diego, num casamento em que foi trabalhar. Ele era convidado de um convidado. Ivana era fotógrafa, tinha a missão de fotografar a festa e os noivos. Enquanto a cerimônia acontecia, ele se aproximou e puxou papo. O danado passou a noite toda seguindo-a com o olhar, oferecendo-lhe doces, bebidas… e ela firme e concentrada em seu ofício, negando. Até que o momento trabalho acabou e chegou seu momento de curtir a festa. Foi ele Diego se aproximou, ela se rendeu, e eles passaram o restante da noite juntos.

Após muitos prosecos, Ivana foi pra casa com uma amiga e acordou de ressaca, meio sem saber o que tinha acontecido, apenas muitas mensagens no celular e a incerteza do que realmente tinha feito. Durante o tiveram, eles trocaram mensagem e, à noite, ela foi convidada a reencontrá-lo. Foi com uma amiga e ele com um amigo. Lá, descobriu que ele morava na Gloria, no Rio de Janeiro, e se despediu já pensando na possibilidade de um breve reencontro. Desta vez lá, na cidade maravilhosa.

A maluquice foi tamanha que, estressada por conta de um trabalho, entrou na internet e comprou uma passagem para o Rio. Tinha muito tempo que não ia lá. Diego foi buscá-la no aeroporto e levou-a para casa de Mônica, sua amiga e anfitriã por aqueles dias. Logo, marcaram um encontro pra noite. Ficaram juntos, Ivana estava pisando em nuvens. Tudo acontecendo exatamente como pensou. Dias antes, fuçou seu Orkut para conhece-lo mais. Achou seu corpo interessante e ficou fascinada pelo seu estilo de vida. Ele adorava viajar. Nos outros dois dias Diego sumiu e Ivana, bancando a descolada, decidiu rever os amigos cariocas que há muito não via. É claro que ficou dividida. Metade se divertindo com os amigos e metade querendo entender o que tinha realmente acontecido.

Eis que no outro dia, Diego reaparece como se nada tivesse acontecido, como se os dias em branco nunca tivessem existido. Ivana foi para a Glória, conheceu alguns amigos dele e, aos poucos, foi percebendo que ninguém o levava muito a sério. Tarde demais, Ivana já estava apaixonada. A partir dali, a Glória passou a ser um ponto certo de passagem. Ela estava hospedada em Copacabana. Então, como uma legítima nativa, já sabia o que fazer. Ia pra estação Siqueira Campos, pegava o metrô e descia na estação Gloria.

Voltou pra Salvador e de lá ficou tentando manter uma relação que, de fato, era unilateral, mas que pra ela era a chance de realizar seu sonho emergente. Nem bem chegou à Salvador, comprou passagem para voltar ao Rio no verão. Era para ficar 10 dias, ficou 28, baseada na troca de passagem e na intenção desse “louco amor”. Diego aparecia, sumia, reaparecia, sumia de novo e ela atribuindo isso a alguma dor de amor vivida por ele, que lhe causou algum trauma.

Num desses dias no Rio, Diego precisou viajar a trabalho para Fortaleza e Ivana resolveu, enfim, seguir os conselhos de seus muitos amigos e sair com eles para se divertir. O cumulo foi nessa saída ela ter a possibilidade de conhecer outros gatos bacanas e o cara ficar de lá mando mensagens de quinze em quinze minutos falando o que estava fazendo, comendo e etc. O que seria uma noite de diversão na Lapa, acabou virando um flerte “via” SMS. Com se não bastasse, em sua volta, nem bem chegou em casa, Diego ligou para Ivana e marcaram um almoço. De repente ele ficou com medo de perder a paquera disponível. E no almoço já marcaram o encontro da noite.

Tudo parecia perfeito para Ivana, mas Diego era estrando e sempre que bebia se transformava. No outro dia de manhã, de ressaca, ele resolveu “terminar tudo”. Ela deu um OK e foi viver os dias restantes curtindo o Rio de janeiro. Quem “diz que” conseguiu? O cara ficava mandando mensagens a cada meia hora, a cada duas horas, a cada quatro horas. E ela ficava achando que, no fundo, ele gostava dela. Foi então que ela inventou uma desculpa para reencontrá-lo. Pediu para ele ajudá-la a se mudar da casa de uma amiga para outra. Ele foi e depois saíram para andar pela praia. Lá ele confessou estar triste, disse que queria voltar pra casa, deixou-a em casa e sumiu. Ela ficou louca, achando ele iria se matar, beber demais, se drogar, ou sei lá, o que fosse ruim e pudesse colocar sua vida em risco.

É claro que os amigos viam, mandavam ela desencanar, esquecer o cara, que ele não tinha nada demais… Mas ela não acreditava. Ou pelo menos, não queria. Fazia qualquer coisa para passar na Gloria e estar mais perto dele. Qualquer desculpa, era desculpa.

Quando estava para voltar à Salvador, ele se ofereceu para levá-la ao aeroporto. Lá, disse-lhe que eles se encontrariam no carnaval e que gostaria que eles saíssem em algum bloco juntos. A louca foi trás de abadá para os dois.

E foi dessa migalha que ela viveu os próximos dias. Pensando nos momentos que viveria com ele no carnaval. É claro que foi só ilusão, né? Ele foi, ficou com ela um dia e no outro dia sumiu. Meses depois, descobriu que era um dia com ela e o outro com uma namoradinha nova. No último dia de carnaval, eles ficaram juntos na avenida e ele foi direto para o aeroporto. Foi o pior carnaval de sua vida, de certo. Mesmo estando com ele, sabia que não estava.

E os meses que se seguiram foram exatamente assim. Com Ivana e seu amor de migalha. Quando ela estava esquecendo, ele ligava, mandava um torpedo, escrevia uma mensagem no “finado” Orkut… Se fazia presente, mesmo ausente. Até que ela se cansou e decidiu se curar. Como? Foi atrás dele. Segundo ela, seria como mordida de cobra, que se cura com o próprio veneno. Foi decidida a revelar o quanto estava apaixonada e a observá-lo em seus piores defeitos. Foi com uma amiga dando-lhe cobertura. Saíramos vários dias juntos, como “amigos”. Ele jogando charme e ela se fingindo de louca.

O momento “ACABOU” chegou quando estava indo embora e ele se ofereceu para levá-la ao aeroporto. Ela tinha um perfume, que usava há muitos anos e que, muitas vezes, ele falou o quanto gostava daquele cheiro. Nesse dia, ao entrar no carro, ele perguntou-lhe onde vendia, pois queria comprar todos e execrar da face da terra. Ela lhe respondeu de forma torta, disse que queria descer. Ele pediu-lhe desculpas e ela, mais uma vez, ficou. Foi embora pra casa com aquelas palavras machucando seu juízo. Não pelo perfume, mas porque sabia que a intenção era humilhá-la, machucá-la. Depois disso, foram mais alguns dias revistando o passado ruim, refletindo, colocando na balança aquela relação, chorando, pensando e reavaliando. Saiu com amigos, foi a boates, beijo muito na boca… Até que, num belo dia, como num passe de mágicas, ela decidiu. Escreveu um poema, colocou num blog, mandou por e-mail para seus amigos, inclusive ele, e decidiu seguir.

Eis o poema:

Se eu não disse antes, digo agora. 

Se eu não disse antes foi por medo…

de mim, de você, de nós, de vós, deles, de perder, de te perder, de me perder…

Se eu não disse antes era porque achava que os sapos dos brejos eram príncipes e não sapos.

Se eu não disse antes era porque era tonta, porque achava que os seus textos clichês eram poemas para mim,

era porque julgava seu mundo melhor, sua visão melhor, seu cheiro melhor, sua boca melhor… tudo seu era melhor.

Se eu não disse antes era porque achava que amar, transar, fornicar, prevaricar… era só aquilo…

era porque achava que a sua cachaça era melhor do a minha água,

era porque achava que viver era ter você, era ser você.

Se eu não disse antes era porque ANTES acreditava que pouco era muito, que esmola era loteria…

não entendia direito os sinônimos e antônimos.

Achava que ouvir um “fala, mala!” era o mesmo que “fala, mulher mais linda do mundo!”.

Era porque achava que, no fundo, sua grosseria, era o seu jeito de dizer “eu te amo!”.

Por isso, vim aqui num ato solene, te dizer algo que só agora tenho coragem.

Algo tão profundo, tão sincero, tão meu, tão seu, tão nosso, que se torna um tanto delicado.

Falo por mim, por você, por ele, por eles, por meus amigos, por meus conhecidos, por meus vizinhos, por meus familiares…

por tantas mil gentes que vivem histórias tão singulares que até me sinto uma espécie de porta voz.

Falo pelos xingamentos, pelas ofensas gratuitas, pelos desprezos, pelos silêncios indesejados, pelas péssimas brincadeiras,

pelas mentiras, pela psicopatia, pela diversão em ver o sofrimento alheio…

Hoje, forte e capaz, feliz por vezes, livre, decidida, organizada, amada, pensativa, reflexiva, chorosa…

Falo por tudo que vivemos e não vivemos…

Falo, dedico, desejo, almejo, solicito, imploro, rogo, canalizo…

Mas não pense que é de forma prazerosa.

É da forma menos desejosa e mais dolorosa que um ser (humano?) sonha…

Quero que você de F*DA. Com F (maiúsculo, minúsculo), PH, aqui, acolá, em todo lugar…

enfim… F*DA-SE!!!

E no outro dia a mágica se completo. Ela conheceu aquele cara que, sem dúvida é e será o homem de sua vida: Matheus. E como nas histórias de príncipes e princesas, ele chegou tranquilo, sereno, sincero, cavalheiro e cheio de amor para dar. Prova de que o universo conspira e que quando a gente quer de verdade, ele está ligado, para nos dar o que a gente realmente merece.

 Essa história é meramente ficção. Qualquer semelhança com outras é meramente coincidência.