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SOU NORDESTINA, SIM… E aí?

Categoria(s): | Publicado em: 7 de outubro de 2014

Toda vez que ouço ou leio algo ofensivo vindo do Sul ao povo do Nordeste, só me lembro da frase que não me canso de repetir do nosso velho amigo Shakespeare: “O nome disso é mentira de ciúmes”. E não estou devolvendo o chumbo para TODOS os sulistas. Estou falando para os engraçadinhos que realmente se acham superiores e não se cansam de nos ofender. Essa frase é para vocês.

Me lembro também das muitas vezes que vieram falar comigo em inglês, achando que eu era angolana, como se em Angola as pessoas não falassem português. Como se baiano não pudesse ter estudado, como se baiana que não cantasse ou jogasse futebol não pudesse ser bem sucedida.

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Me lembro da minha primeira viagem ao Rio de Janeiro, quando estávamos sobrevoando aquela cidade maravilhosa e um senhor soltou “Finalmente estamos chegando ao Brasil” e percebendo que eu não tinha gostado, sem graça, perguntou se eu era baiana. Quando eu confirmei, ele falou “Desculpa, mas é que aqui a gente fala que o Brasil é só Rio e São Paulo”, ao que respondi rapidamente que tinha idiota para tudo e nunca mais olhei pra cara dele. Ui.

Já conversei com gente que achava que no Ceará todo mundo andava em cima de pau de arara e que na Bahia a gente escovava os dentes com azeite de dendê. Ou pelo menos, foi o que pareceu. Ouvi cada coisa! ‘Ah, vocês comem todo dia caruru?”, “Claaaaaaaaro, e vocês sambam todos os dias na Sapucaí”. Ah, vá!

Tem gente que realmente acha que o povo nordestino é invasor, que de musica a gente só conhece “Boquinha na Garrafa”. Água? Só quando a gente sobe no coqueiro pra pegar água de coco. Querem passar NA TORA uma borracha em nossa bela história. Não só a Bahia, mas como todo o Nordeste tem é história, viu? Foi daqui que saíram Ruy Barbosa, Jorge Amado, o velho Luiz Gonzaga, Elba Ramalho, Alcione, Gilberto Gil, Caetano, Bethânia… e tantos outros “invasores”, que só acabaram com a terra e a cultura de vocês, né? Desculpem, mas a gente é PHODA.

Não. Não vou fazer aqui um discurso de ódio contra os sulistas. Pelo contrário, sou sempre a favor da união. Amo os de lá, suas terras, sua cultura, meus muitos amigos, embora não entenda quando me perguntam o que ainda estou fazendo aqui.

Também não entendo você que se achar “raça superior” só porque muita gente não comunga da mesma opinião que você, ou não é da sua mesma etnia, classe social, região, religião, orientação sexual.

É. Sou sim, nordestina, baiana, negra e toda vez que saio daqui tenho mais consciência disso. Lamento muito se você não sabe conviver com isso. Sou, sim, nordestina, vizinha de Sergipe, de Pernambuco, de Alagoas, do Ceará, do Maranhão, da Paraíba, do Rio Grande Norte e do Piauí. Somos, sim, nordestinos, lindos, amados, alegres, vitoriosos, guerreiros, gostosos, amados, amorosos… Tão, que amamos vocês, do Sul, do Norte, do Sudeste, do Centro Oeste… Amamos mesmo. E se você não sabe lidar com isso, concorde que o problema está com você.

Por isso com bem disse Saulo Fernandes em seus versos: “Se plante, lá vem rasteira, pé de ladeira / Preciso da fé no Senhor do Bonfim / Pra mim, pra você, pra mim “.

Sou Nordestina, sim. E aí? E daí? Sou Nordestina, sim. E não me troco por você.

Beijo “Africa iô iô” e meu amor pra você.