12 de agosto de 2011
Toma Jeito de Gente !
O blog voltou com as entrevistas… Confesso que estava com muita saudade !!! E nada melhor do que esse recomeço rodeada de amigos. Será que eu estou tomando jeito de gente? 😉
TOMA JEITO DE GENTE! é a frase que a gente ouvia, quando criança, aprontava alguma peraltice ou deixava de fazer alguma coisa. Era frase de mãe, de pai, de tia, de vizinho… Gente que reproduzia o que também já tinha ouvido em sua época, gente que berrava o que, muitas vezes, também precisava ouvir… Lembra daquela história de um soneto de Gregório de Matos e que não me canso de repetir? “A cada canto um grande conselheiro/Que nos quer governar a cabana, e vinha/Não sabem governar sua cozinha,/E podem governar o mundo inteiro./Em cada porta um freqüentado olheiro,/Que a vida do vizinho, e da vizinha/Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha,/Para a levar à Praça, e ao Terreiro/Muitos Mulatos desavergonhados,Trazidos pelos pés os homens nobres,/Posta nas palmas toda a picardia./Estupendas usuras nos mercados,/Todos, os que não furtam, muito pobres,/E eis aqui a cidade da Bahia.”
É assim também mais ou menos a história de TOMA JEITO DE GENTE, novo solo do ator Ricardo Fagundes (Dom Quixote / A Bofetada / O Grande Passeio), com texto e direção do também ator Jarbas Oliver (A Bofetada / A Vida de Galileu / Siricotico) que teve estreia no Teatro Gamboa Nova e estará em cartaz as sextas e sábados de Agosto, sempre as 20 horas.
Ricardo Fagundes e Jarbas Oliver (ator e diretor de Toma Jeito de Gente!)
E é nesse clima de estreia que começaremos esse bate-papo. Estreia do solo de Ricardo e estreia de Jarbas como autor e diretor.
Não é porque eles são meus amigos, mas talento e obstinação não faltam a esses dois rapazes, que eles se conheceram na Escola de Teatro da UFBA, há mais de dez anos, se formaram, se profissionalizaram, trabalharam juntos em alguns espetáculos, dentre eles, o sucesso A Bofetada, da Cia de Patifaria. Um já é Mestre em Artes Cênicas, o outro quer ser mestre da própria vida. Ricardo Fagundes e Jarbas Oliver são o que a gente pode chamar de artistas multifacetados e obstinados. Particularmente falando, considero estar a frente de um monólogo um ato de coragem, que poucos atores podem e conseguem fazer. E os dois, em papéis diferentes, resolveram enfrentar esse desafio.
Ricardo em seu TOMA JEITO DE GENTE !
É a primeira experiência de Jarbas como autor e diretor e a primeira parceria dos dois como donos de um produto. Tudo isso com o aval da QUATRO Produções Artísticas, produtora formada por jovens artistas, que cansados de serem reféns de trabalhos, resolveram se juntar e bancar os próprios sonhos. E TOMA JEITO DE GENTE é a realização de mais um desses sonhos.
O resultado dessa união de artistas versáteis, nós veremos durante toda a existência dessa montagem, que teve uma estreia emocionante, vibrante, divertida e feliz !!! Para celebrar o “debut” fomos todos a sede da QUATRO, no Garcia, onde o Chef Amândo Damásio nos presenteou com iguarias de primeira qualidade !!! Com certeza, uma excelente forma de brindar essa temporada, a meu ver, já promissora.
Ah !!! O espetáculo também conta com o outro mil e um, Nilson Rocha, na Assistência de Direção e Saulo Viana, na Trilha Sonora.
Com a turma da QUATRO no coquetel capitaneado por Amando
Vamos conversar um pouquinho com Ricardo e Jarbas, na volta das entrevistas do Abadá?
POR QUE MONTAR UM SOLO?
Ricardo:
Fazer Teatro é um custo e um aprendizado. Envolve muita gente. Sei sobre o que quero falar e como não podia reunir uma equipe muito grande, resolvi fazer um solo. Na realidade, é um projeto composto por várias pessoas por trás: 5 produtores, 1 sonoplasta, 1 assistente, 2 técnicos de operação, 2 cenotécnicos e mais 1 diretor. Imagina se eu colocasse mais atores no elenco? rsssssssssssss
O QUE PODEMOS ESPERAR DE “TOMA JEITO DE GENTE”?
Ricardo:
Um espetáculo feito com muito amor, verdade, sarcasmo, dixote e coração. Para tocar na alma.
Jarbas:
Eu acho que o que se pode esperar deste espetáculo é um reconhecimento do ser humano que mora em você. O personagem acaba sendo um espelho pra todos nós e este reflexo trás momentos divertidos, puros e emocionantes.
VOCÊ ACHA QUE O ATOR ATUALMENTE É UM EMPREENDEDOR OU AINDA É UM MOVIMENTO TÍMIDO?
Ricardo:
Esse é um caminho inevitável para quem quer crescer, ampliar os horizontes. Faço por necessidade e vocação e isso me ensina muito sobre o ser humano. Me coloca num patamar de inserção em diferentes áreas desse ofício.
Jarbas:
Eu acho que é um movimento muito tímido, a prova disso sou eu mesmo.
COMO É DIVIDIR FUNÇÕES: ATOR/DIRETOR/AUTOR/PRODUTOR? O QUE É MAIS DIFÍCIL?
Ricardo:
Quando se tem paixão pelo que se faz, chegamos lá e de barriga cheia. Cada função tem sua especificidade, como aprendi com Fernanda Paquelet a ampliar os horizontes, acabei por me tornar um profissional que transita muito bem em diferentes áreas e lugares.
Jarbas:
Definitivamente pra mim a parte mais difícil é a produção. Tanto que Ricardo fez toda esta parte (muito bem feita).
Falar com as pessoas, vender minha ideia, ser simpático diante de um “não” são coisas que eu ainda preciso trabalhar em mim. Eu não tenho talento pra estas coisas, mas sei que preciso aprender muito sobre esta área. Aliás, acho que todo ator tem que conhecer um pouco de todas as áreas do teatro.
COMO ESTÁ SENDO DIRIGIR SEU PRÓPRIO TEXTO, APÓS INTERPRETAR TANTOS PROJETOS DOS OUTROS? E QUAL FOI A SUA INSPIRAÇÃO NO MOMENTO DE CONCEBER O TEXTO?
Jarbas, como ator, em Siricotico…
Jarbas:
Dirigir o meu próprio texto é muito bom e muito perigoso porque, como ator, fico querendo dar a minha interpretação para o personagem quando, na verdade, eu preciso ver este personagem vindo através do trabalho de interpretação de Ricardo. Aprender a ter esta paciência foi um exercício maravilhoso pra mim dentro deste novo terreno, o terreno da direção.
Quanto à inspiração pra escrever o texto, ela veio de longas conversas que tive com Ricardo a respeito do tema, assim como, experiências próprias e experiências de conversas com muitas pessoas a respeito da força desta frase nas vidas de muita gente.
VOCÊ SE INSPIRA EM ALGUÉM PARA INTERPRETAR A PERSONAGEM?
Ricardo:
Rssssssssssssssssssssss Em tanta gente…. tantas Patrícias, Ricardos, Déboras, Igors, Jarbas, Chicas, Roxas, Veras, Maurícios, Narcisos, Ritas, Tamiles, Gretas, Nilsons, Lelos, Marcelos, Laíses, a família Boliveira por completo… e… é tanto que nem nem…
QUEM OU O QUE PRECISA TOMAR JEITO DE GENTE?
Ricardo:
Os políticos, policias, advogados, médicos em sua maioria. Tudo isso eu tenho alergia.
Jarbas:
Acho que o que precisa tomar jeito de gente é a política cultural do município e do Estado da Bahia.
COMO É NORMALMENTE A RELAÇÃO DAS PESSOAS COM OS SEUS VIZINHOS?
Ricardo:
Acredito que deva ser, mas nem sempre é de respeito. Relações divertidas, emocionantes… tive muitos vizinhos que construímos uma família… mas os atuais… ai, Meu Deus… precisam ter mais educação… não falam olho no olho… só por trás… é muito engraçado por que eles se comunicam através de cartas colocadas embaixo das portas… e quando se veem não falam o que se tem pra ser dito rssssssssssssssssssssssssssssssssssssssssss
Jarbas:
Este tipo de relação é sempre única. Por mais que existam os clichês, ainda assim, a individualidade de cada um é marcante demais pra ser uma coisa descrita, mas o que precisa melhorar são as relações humanas. Tem gente que é vizinho há anos de outro e nunca se falaram. As pessoas estão cada vez mais com medo. O ser humano acaba tendo medo dele mesmo.
A PERSONAGEM DO ESPETÁCULO CRIA UM JORNAL, QUAL NOTICIA GOSTARIA DE LER NAS PÁGINAS DOS JORNAIS?
Ricardo:
TODOS JÁ TÊM ACESSO A CURA DA AIDS;
O MUNDO PODE SE ALEGRAR MAIS: TODOS TÊM O QUE COMER;
SOTEROPOLITANOS AMPLIAM SEU HORIZONTE E VÃO À TEATRO, MUSEUS, CINEMAS, BIBLIOTECAS, SHOWS DE TODOS OS GÊNEROS… TODOS POR QUE PODEM, TODOS POR QUE QUEREM!
Jarbas:
“Prefeitura de Salvador reinaugura o Teatro São João na praça Castro Alves e devolve aos cidadãos o teatro Gregório de Mattos”;
“Pesquisas mostram que Centros de cultura e esporte, espalhados pelos subúrbios da capital baiana, diminuíram em 63% o número de criminalidade naquelas regiões.”
“Finalmente, o governo entendeu que a saída para o caos está na educação, na cultura e no esporte.”
COMO VOCÊ ENXERGA A MÍDIA ATUALMENTE?
Ricardo:
É só abrir e ler um caderno cultural baiano, assistir a um programa de TV baiano e abrir a Folha de São Paulo ou Sem Censura, por exemplo, e temos uma visão de nós e dos outros… rss… claro que se você assiste ao Soterópolis, Perfil, Boa Tarde Bahia, ouve o Multicultura, ambos da Rede Educadora, você fica mais sabido. Agora, Paty, é uma escolha ser ou estar…rs….
Jarbas:
A mídia é determinada pelos empresários que injetam dinheiro em muita coisa ruim.
No dia em que a arte falar mais alto que o dinheiro a mídia vai ser uma coisa muita boa.
COM O AVANÇO DA TECNOLOGIA, TODAS AS PESSOAS VIRARAM PAPARAZZOS, O QUE ELAS BUSCAM E POR QUE VOCÊ ACHA QUE ISSO ESTÁ ACONTECENDO? O QUE FAZ CADA DIA MAIS AS PESSOAS TOMAREM PARTE DA VIDA DOS OUTROS?
Jarbas:
Quando você cuida mais da vida dos outros e esquece de viver a sua, você esta deixando de ser feliz! Este é o drama principal deste personagem.
Acho esse negócio de paparazzo uma chatice porque não me interessa em nada saber quem esta namorando, com quem ou quem separou de quem.
Mas acontece que as pessoas gostam disso e se existe paparazzo é porque existe quem consuma estas fofocas. O problema é que a fofoca é do ser humano.
ATUALMENTE, SALVADOR ESTÁ RECHEADA DE PRODUÇÕES TEATRAIS… O TEATRO BAIANO ESTÁ SAINDO DA CRISE?
Jarbas:
Eu acho que não! Se Salvador esta recheada de produções teatrais é porque muita gente (como Ricardo Fagundes) tirou dinheiro do próprio bolso pra fazer o espetáculo. Ele está com a cara e coragem porque não existe um tostão do governo municipal e muitos menos do governo estadual neste espetáculo. Acho que as redes sociais nos ajudaram muito, mas foram os amigos que possibilitaram que esta peça estreasse.
Acho que boa parte da impressa baiana negligencia o teatro feito em Salvador e acredito que no dia em que a Bahia olhar pro teatro baiano com os olhos que ele merece aí sim sairemos da crise.
Pra você ter uma ideia as escolas particulares (isso pra não citar as públicas) não levam os alunos ao teatro.
QUEM JÁ TOMOU JEITO DE GENTE? (CITE ALGUÉM)
Ricardo:
Eu!
Jarbas:
Toda pessoa que é bem resolvida já tomou jeito de gente.
QUEM PRECISA TOMAR?
Jarbas:
Whatever… É isso, meninos !!! Axé e merda merda, merda !!!

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SUPER SUCESSO PARA OS DOIS!!!!!
BJSSSSSSSSSS
LINDETE SOUZA
foi emocionate ver a força de vontade e a coragem destes dois amigos/atores/diretores, em fazer com que o “toma jeito de gente” viesse a acontecer.
muito obrigado por me proporcionar esses momentos de afeto, amizade, conquistas e muita superação de obstáculos.
bjo
Sergio Figueiredo
Foi enriquecedor compartilhar de esforços, entusiasmos e assistir todo o processo tornando-se permissivo à critica e apreciação da sociedade.
Esses meninos casaram as idéias e deu sentido as emoções, Toma Jeito de Gente “bulina”, “cutuca” , mexe com a vida de quem assiste.
Além de nos contar a história e nos mostrar as frustrações desse personagem, é um momento de auto reflexão!