25 de agosto de 2012

De onde vem os desabafos?



Ontem uma repórter me perguntou de que era composto SOB TODOS OS OLHARES. Me lembrei de quando construímos os textos. Retiramos das memórias, de histórias nossas, alheias, inventamos outras, mexemos em outras, enfim… de fato a vontade era falar mais, muito mais. A gente tem tanto pra falar. Mulher é tão composta.

Eu mesma não abri mão de incluir um poema que escrevi para um bofe uó que passou pela minha vida. Foi escrito bem no momento em que decidi apertar o botão do FODA-SE, sabe? Quando tudo que você já sabia começa a fazer sentido. Ele era pouco pra mim, eu sabia, mas o coração insistia em se enganar. O poema foi a linha, o o “jogar no google”. Engraçado, depois dele conheci o meu amor recíproco. Acho que foi minha redenção. Deus disse: “Acho que ela aprendeu a lição, podemos mandar o gatinho dos sonhos dela”. E mandou. Alguém diferente de tudo que imaginei. Do tamanho certo. Do meu tamanho. Do jeito que tinha que ser.

Aí, remexendo os baus decidi incluir o tal poema também. Ele foi a linha entre os dois mundos. Mesmo eu não interpretando a emoção que sinto agora (lá sou personagem), ele está lá. Numa homenagem, com toda dedicatória. Foi uma época ruim, nociva, desagradável, mas passou. Eu riu e sinto como não tivesse acontecido comigo. Saio de mim e olho como espectadora de um circo de horrores.

Parece que foi há séculos e sinto vergonha, como quando olhamos aquelas imagens nossas na década de 80, com cabelo de poodle e ombreira. Uma vergonha, uma vontade de sumir, tacar fogo em tudo. A diferença é que dessas imagens você lembra até com nostalgia, lembranças da época  em que o pagamento da luz e do gás não era com você, de que ser vitoriosa no final das brincadeiras era só o que buscávamos. Já desses outros momentos com falecidos, você faz questão de deixar longe e só lembrar como algo a não se repetir. Não é pra esquecer. É pra lembrar mesmo. Vem com a sensação de exorcismo, de expurgo, catarse… E é tão bom !!!

Essa sensação povoou meus pensamentos ontem quando a repórter me perguntou como construímos a nossa peça. Construímos com pedaços de nós, pedaços dos outros, com lembranças boas, não tão boas, péssimas… E neste final de semana estamos nos despedindo dessas mulheres. Pelo menos, por enquanto. Whatever…

SOB TODOS OS OLHARES, em cartaz até o dia 26 de Agosto, as 20 horas, no Teatro Gamboa Nova.

Te vejo lá.

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