3 de fevereiro de 2013
Qual é a cara do Brasil?
Não é de hoje que as pessoas vivem dizendo que tenho cara de gringa. Uma vez no Rio uma família me pediu pra tirar foto com eles. Outra vez, no Rio também, num casamento , umas mulheres falaram comigo em inglês, achando que eu fosse angolana (como se em Angola não se falasse português) e perguntaram se minha roupa era típica. Agora, da ultima vez, uma menina perguntou se eu preferia que ela falasse comigo em inglês, aí quando disse que preferia em português, ela falou aquele português lento e articulado para gringos. Puxado? Não. É só o retrato de um Brasil que não se conhece, muito menos se reconhece. Uma amiga me perguntou se eu não ficava feliz por ser vista como uma pessoa internacional. NÃO. Não fico feliz, não. Eu gosto de brasileira, gosto de ser baiana.
Ao contrário do que muitos julgam, os nordestinos amam ser nordestinos e ser vista como internacional não é elogio. Na minha profissão, ser de qualquer lugar talvez seja bom, não só ser vista como gringa.
Não. Não é bairrismo. Só estou questionando o fato de acharem que pessoas da minha paleta não são do Brasil. E é o que mais ouço. A SUA COR É DIFERENTE. Oi? “Você já foi na Bahia, nego? Então vá!” De onde eu venho o que não falta é a “minha base”. Na Bahia o que mais tem é preta que nem eu. É claro que esse e muitos outros tons, mas o meu é tão comum, tão meu, tão seu, não nosso, tão verde e amarelo.
Não, não é bairrismo, mas é. Eu amo a Bahia. Mas isso não me impede de amar o Rio, o Ceará, o Paraná… e entender cada lugar como Brasil. As pessoas preferem errar. Preferem falar em inglês pra depois jogar o português. Você já foi nos países quem falam outras línguas? Então vá. Vá ver se eles vã falar primeiro o português pra depois a língua deles. Fico com raiva toda vez quando as pessoas acham que chamar de estrangeiro é elogio. Não é. Cada um no seu quadrado. Não tenho nada contra gringos, nem contra Angola (amo, amarei mais quando conhecer)… Mas gosto de ser quem sou. Às vezes sou bairrista, sim. Daquelas que “morrem de raiva” quando falam mal de minha terra, de meu bairro, dos meus patrícios… Daquelas que espumam quando ouve idiotices do tipo: “Mas na Bahia vocês não fala bem o português”, mesmo porque nesse Brasil de tantos Brasis se for pra ser radical, português mesmo só em Portugal, né não? Só que não.
Mas não fico nem um pouco ofendida com as pessoas que acham que quem comete uma besteira, fez uma baianada, que o Brasil é só Rio, São Paulo e Sul, que Nordestino é burro e ignorante, que baiano escova os dentes com dendê, que a gente passa os 365 do ano pulando atrás do trio, que somos preguiçosos, que falamos como os lesados falam nas novelas, que preto bonito é gringo e muitas outras idiotices que faço questão de esquecer. Tem idiota pra tudo.
Também não ache uma chatice eu falar o tempo todo sobre isso. É só porque o tempo todo me lembram disso. Sou preta, brasileira, baiana, soteropolitana, cajazeirense, pernambuesense, ladeiradabarrense e muitas vezes andam com um pano na cabeça (pra muitos imbecis é uma toalha, mas pra mim é torso, herança dos meus ancestrais)… Posso até um dia bombar no inglês (adoro e quero), mas só como minha segunda ou terceira língua. Posso também morar em outro lugar… Mas não vou esquecer quem sou, de onde vim… E a minha primeira língua é o português ensinado por papai, mamãe, na escola… e que me desculpem os do contra, eu mando muito bem.
No fundo, eu até sei porque isso acontece. Porque a gente prefere se manter ignorante e achar que no Brasil negros e índios não passam de figuras exóticas e distantes. É só um Brasil que em tempos de google, de instagram, de bambambam… sabe do mundo e não sabe de si. O que é uma pena. Whatever…

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