Tag: racismo

Vítima de Racismo/Xenofobia aqui? | Tranças (Umectar e tirar)

Categoria(s): | Publicado em: 29 de janeiro de 2017

Ooooooi, minha gente !!!

A partir desse mês quero fazer vários vídeos combos. Tipo 2 em 1. Será o quadro BAPHO DA VEZ, onde sempre estarei conversando sobre os ultimos acontecimentos.

O primeiro é sobre um babado que aconteceu comigo aqui em Hawaii. Um assunto delicado e de necessário desabafo.

Além disso, peço licença para mostrar como umecto e tiro minhas tranças. É bem rápido. Meus cabelos naturais ficam sempre umectados e brilhantes com essa técnica. Quer ver?

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Já visitou meu INSTA hoje? Após o vídeo dê uma passada lá para me ver.

Obrigada, mahalo e até mais !!! <3


REPRESENTATIVIDADE : PAQUITA PRETA?

Categoria(s): | Publicado em: 20 de julho de 2016

“QUEM NUNCA QUIS SER PAQUITA?”

Essa é a frase que mais a gente ouve quando lembra das meninas vestidas de soldadinhos, que trabalhavam com a apresentadora Xuxa Meneghel, em seus programas, nas décadas de 80 e 90. Pois é. A de cá também teve esse sonho básico. Ridículo? Claro! Cafona? Também. Mas tive, sim. A de cá desejou, inclusive, ter nascido loira, só pela chance de ter vivido naquele mundo. Acontece que a de cá também nasceu com a paleta calibrada, os cabelos crespos e numa realidade completamente distante disso. Porém, nada disso, felizmente, me fez uma criança triste. Pelo contrário. Só me transformou numa adulta que cuida para que as crianças negras de agora cresçam com outras referências. As suas referências. Com pessoas que as representem e a façam se orgulhar de si mesmas.

PAQUITAS... Todas juntas!

o  PAQUITAS… Todas juntas! Loiras, loiras e mais loiras

Ontem, encontrei o vídeo Cores e Botas, sobre Joana, uma menina que sonhava ser Paquita. Um belo filme, que retrata bem o que tantas passaram e ainda passam, quando não se veem e querem se inserir num mundo que também não as enxergam.

 

Cores e Botas (Colors & Boots) from Preta Portê Filmes on Vimeo.

Na minha época, negros na TV, não passavam da cozinha ou pertenciam ao folclore brasileiro. Eram Tia Anastácia, Tio Barnabé e o Saci do Sítio do Pica Pau Amarelo, os escravos de A Escrava Isaura e poucos outros no mesmo seguimento. Apresentadoras infantis? A maioria era loira. A única morena era Mara Maravilha. Mas a “cachaça” de todo mundo mesmo era Xuxa. Ela, sim, povoava o imaginário infantil. Com suas frases de efeito, canções, nave espacial, botas, xuquinhas, especiais de fim de ano e um séquito que nos fazia acreditar que aquele era o mundo perfeito. Todo mundo queria pertencer aquele sonho, fazer parte daquilo tudo.

As meninas “sortudas” que trabalhava com ela, eram todas loiras. E, quando entravam morenas, em pouco tempo, tornavam-se loiras também. Negras?! Nunca vi. Soube até de uma que participou de um programa fora do Brasil, mas nunca foi devidamente oficializada.

Todas as gerações... As que não eram loiras naturais, ficavam

Todas as gerações… As que não eram loiras naturais, ficavam

Eu preferia ficar ali, fantasiando, colocando toalha na cabeça, fingindo ser meu cabelo, comprando botas, discos e brincando de copiar as coreografias, colecionando fotos, reportagens, indo a shows, querendo estar próxima, mesmo sem estar. Eu até ganhei 6 meses de assinatura da revista em quadrinhos da Xuxa, por ter desenhando vários modelos para ela, num concurso promovido pelas editoras Globo. Na verdade, ganhei uma raquete e me mandaram a assinatura. O bom é que nunca parei de viver, nem me achei um lixo por isso. O babado era que as minhas referências eram loiras, os meus exemplos tinham os olhos claros, os cabelos lisos, a pela clara… Eu queria ser, queria ter, mas nunca me revoltei com o que eu era. Não que o meu fosse inferior, era aquele que me era vendido como O PERFEITO. E quem não quer “a perfeição”?

Venderam discos, fizeram comerciais...

Venderam discos, fizeram comerciais…

Se engana quem pensa que vim aqui falar que tenho raiva de tudo isso. Pelo contrário. Guardo como lição. E, como já anunciei, faço questão de tentar construir um mundo com mais referências para as crianças negras que estão chegando. Quero que elas encontrem a representatividade que eu não tive. Que se vejam, que se enxerguem, que se orgulhem. Que não precisem mudar para se adaptar. Que tenham orgulho do seu crespo, de suas tranças, de seu tom de pele, da cor dos seus olhos… Que sejam o que são, com dignidade e propriedade. Eu sou quem eu sou, porque, felizmente, tive pais empoderados que, apesar de terem me apresentado ao mundo numa época em que os meus não eram tão meus, em que as referências eram distantes das minhas, nunca permitiram que eu deixasse de me orgulhar de mim. Me criaram para me achar. E eu me achei. Apesar da demora. Tive que entrar na Faculdade, tive que estar em contato com muitas Patrícias, para finalmente me encontrar. Acho que até hoje estou me encontrando. Mas já sei quem sou. Tenho orgulho da minha paleta e não gostaria de ter vindo a esta vida de nenhum jeito que não fosse o meu.

Esse empoderamento é um processo árduo. Hoje, existem outras “Xuxas”, outras fórmulas que querem afirmar que não pertencemos a este mundo, embora estejamos nele. Hoje podemos ver mais negros na TV, no cinema, na vida, porque fomos nos impondo, nos colocando, fazendo “na tora” com que nos enxergassem. Agora “quem é que quer ser Paquita?”. Em 2016 nós queremos e precisamos mais é ser nós mesmos. A gente não precisa pintar nossa pele, nosso cabelo, nem se esconder atrás de sonho de ninguém, nem não pouco acreditar em frases feitas e hipócritas. TUDO PODE SER MESMO, mas NÃO PRECISAMOS de ninguém de xuquinha pra nos avisar. A gente sabe. A gente quer. A gente precisa É SER quem a gente É. E a gente vai. Sem favor.

Super pronta !!!

PRONTA !!!

Hoje temos Taís Araújo, Lazaro Ramos, Sabrina de Paiva (Miss São Paulo), Cris Vianna, Sheron Menezes, Érica Janusa, Érico Brás, Luiz Miranda, Fabrício Boliveira, Barack e Michelle Obama, Rihanna, Beyoncé, as blogueiras Tati Sacramento, Gabi Oliveira, Aline Custódio… E, graças a Deus, tantos outros dispostos e aptos para darem um up nessa nova realidade. Somos muitos. Os desafios são muitos também. Mas nós estamos, nós sabemos, nós queremos e não aceitamos mais que nos coloquem num lugar que não seja o nosso. Não que ser empregado seja indigno, não que a escravidão não tenha feito parte de nossa história, mas nós já estamos em todos os lugares. Mesmo que muitos ainda lutem para que não. Nós estamos. E não vamos mais voltar.

Muitos pretos, todos pretos, atores, cantores, modelos, miss, escritores, presidentes, advogados, bloggers, humoristas… Em todos canto !!!! #Vraaaaa PORQUE REPRESENTATIVIDADE IMPORTA, PORQUE REPRESENTATIVIDADE É ISSO. E tem mais, muito mais !!! Venha de lá !!!

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NÃO PASSARÃO !!!

Categoria(s): | Publicado em: 4 de novembro de 2015

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É NOVEMBRO !!! Há exatos 8 anos o segurança da tal farmácia me seguiu, me parou e me pediu, no meio da rua, para que eu abrisse a minha bolsa, porque achavam que eu tinha usurpado algum item da loja. Ele, da mesma paleta da de cá, ainda me disse “você sabe, gente da nossa cor o povo acha que é tudo ladrão”. Dei queixa na delegacia, entrei na justiça e a tal farmácia sumiu com o dito. Ele evaporou e eu entrei para as estatísticas dos loucos que acham que “tudo agora é racismo”. Mas é, viu? Sempre foi. Esse indecente está aí, nos cercando, nos sufocando. MAS AGORA A GENTE FALA !!! Para quem sempre me pergunta como anda o processo, ele ANDA parado. Talvez nunca ANDE. Mas eu ANDO. E nunca vou parar. Mesmo que, no final, seja só história pra contar. Quem sabe um livro para meus filhos? Tapa só dói em quem toma. E esse ainda dói. Não vou PARAR. MULHER, NORDESTINA, NEGRA… Muita coisa pra dar conta !!! Mas eu dou !!! E amo o que eu sou !!! Meu sobrenome agora poderia ser “cansadinha”, mas eu preferi “não desisto, sem hashtag”. ‪#‎CadaDiaMaisPreta‬‪#‎DeNovembroANovembroNegro‬ ‪#‎RacistasNãoPassarão‬‪#‎MachistasNãoPassarão‬ ‪#‎UmaBanana‬


EU SOU PRETA E DAÍ?

Categoria(s): | Publicado em: 4 de setembro de 2014

Não tenho nenhum problema com isso. Pelo contrário. Favor não economizar na tinta. SOU PRETA MESMO. Pretérrima, tiziu, quase azul e adooooooooooooooro !!! E me recuso em pleno 2014 ter que pedir licença pra ser o que eu realmente sou. PRETA, NEGRA… “Me chame de neguinha e eu decido se me derreto ou se te processo”.

Muito melindre pra entender que somos isso e muito mais. Como não achar bestial ter que falar sobre isso nos dias atuais? Cor? Raça? Acredito que nem os primatas perdiam tempo blablando sobre. Mas ok. Se é pra falar, vamos falar. E quem não quiser respeitar as diferenças por bem, vai ter que fazer por mal.

Ontem saiu a sentença e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) decidiu pela expulsão do Grêmio da Copa do Brasil por conta dos atos racistas de muitos torcedores contra Aranha, o goleiro do Santos. Muito pesado excluir? Claro. Mas é assim que a gente funciona. Tem que ser uma punição EXEMPLAR. Agora o debate está aberto. O que antes era tratado como “coisa de poucos”, agora é oficial. O RACISMO EXISTE. E nem sempre é disfarçado. Muita gente gosta de dizer que ele, O RACISMO, não existe. Mas só que é açoitado sabe a dor que isso causa. Agora é o momento de assumir TUDO. Que o RACISMO existe e que o problema é deles, OS RACISTAS, e não nosso.

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É claro que já fui discriminada, é claro que que já chorei e senti por isso. Mas nunca neguei quem eu sou e o meu valor. Já ouvi vários xingamentos, desde o “nega preta do bozó, não toma banho, só passa pó” à crianças perversas me chamando de mula. Dizer que isso nunca me afetou é bobagem, mas também nunca me paralisou.

O que mais me afetou foi quando há alguns anos atrás estava na Faculdade de Teatro e, como exercício, fiz uma cena num projeto, que acontecia todas as segundas-feiras, aberto ao público. Na cena, eu era uma empregada que, na ausência dos patrões, sofria um assalto e na esperteza fazia o ladrão ser preso. Acontece que um aluno, inconformado por eu fazer uma doméstica, foi pra sala de aula chorando e dizendo ter visto uma cena horrível. A professora, que também era Coordenadora da ONG onde eu trabalhava, convocou uma reunião às pressas no outro dia, juntamente com outras coordenadoras e todos vieram me questionar. Falaram a história do menino e fez um paralelo a do negro, desde a sua chegada no navio negreiro, e depois me perguntaram se eu já tinha sido discriminada alguma vez na vida. Eu disse que “SIM” e quando eles me perguntaram “QUANDO E COMO?” eu disse “NAQUELE MOMENTO”. Falei que não achava indigno fazer uma empregada, que ninguém ali acompanhava minha carreira, que eu não fazia só isso. No final, me disseram que eu era rasa, sem conteúdo e precisava me aprofundar em minhas questões. Oi? Foi ali que eu comecei a perceber que existiam várias formas de escrevidão, de discriminação… Para eles só interessava se eu tivesse “complexo de senzala”. Como não compactuava com aquilo, inventei uma desculpa e saí de lá.

Anos depois, quando entrei numa farmácia para passar uma chuva, vindo da academia, um segurança veio atrás de mim, dizendo que “alguém tinha dito que achava que eu tinha roubado algo”. Detalhe: O dito me seguiu até perto de minha casa e me pediu pra olhar minha bolsa. Depois que ele viu, me pediu desculpas. Fiquei tão passada. Voltei à Farmácia, que é a maior rede de drogarias de Salvador, falei com a gerente, fiz um escândalo e fui dar queixa na polícia. É claro que todo mundo quis que eu esquecesse isso. Mas como esquecer se a ferida estava aberta? “Quem apanha nunca esquece”. Resultado: Entrei na justiça, deram sumiço no tal segurança, alegando que ele nunca existiu e até hoje isso rola na justiça. Se acontecesse hoje, eu faria um escândalo maior e chamaria a atenção de todos. Isso não pode ser esquecido. É muito humilhante, mas é preciso ser inibido.

Na faculdade, eu era muito tímida e durante as aulas eu meio que me escondia. Talvez inconscientemente eu tinha lá meus traumas. Mas quando estava no meu ultimo ano, uma professora me fez recortar materias e observar Gisele Bündchen. Era o momento que a modelo despertava para o mundo, sempre esguia e atrevida. Ela me pediu para usá-la como inspiração. Resultado: Botei um mega hair e, como um estalo, comecei a me impor mais na vida. Momento que a gente entende que existem MESTRES e mestres. Eu nunca vou esquecer essa lição. E sempre que me sinto intimidada, me lembro dessa professora e de Gisele. É, infelizmente, naquela época, eu não tinha ícones negros de renome para me espelhar. Então, fui de Gisele mesmo. E foi massa !!!

Essa nova geração está chegando com um bom movimento. A sociedade já não está mais tolerante com a discriminação. Muita gente racista, mas também muita gente no combate. Essa semana muitas coisas aconteceram. A torcida do grêmio xingando Aranha de MACACO; a menina negra que foi execrada no instagra por ter colocado uma foto com o namorado branco; o rapaz confundido com um ladrão no Salvador Shopping, a jornalista que precisou prender o cabelo com uma borracha de dinheiro para tirar a foto do passaporte, porque o “sistema” não aceitou… É muita coisa, é muita maluquice.

Eu realmente tenho muito orgulho de mim. Admiro meus antepassados, tenho enorme afeição pelo candomblé e os seus ritos, adoro meus cabelos, sou uma divulgadora eterna dos torsos na cabeça, os bicos na cara e não admito que me desrespeitem.

EU SOU PRETA, sim. E não vou usar maquiagem pra que ninguém me aceite. Simples assim.